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Usos Terapêuticos da Maconha

Fotos da Oficina de Extração e Manufatura de produtos artesanais para terapia canábica, SC, 2017. Acervo pessoal Sergio Vidal©

Atualmente, segundo a Lei 11.343 em vigor desde 2006, a União pode autorizar o cultivo, comércio, distribuição, uso, etc, da planta e seus derivados, exclusivamente para fins medicinais e de pesquisa científica. Há uma discussão de se deveria ser criado um órgão novo só para exercer a função regulatória, mas atualmente é consenso que essa atribuição seria da ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

 

No entanto, até hoje essa lei não foi totalmente regulamentada, o que significa que ainda estamos longe do cenário ideal sobre o tema. Mas a cada dia estamos avançando, ainda que tendo que recorrer a mobilização social e à justiça. Após uma longa batalha, a partir de 2015 a ANVISA iniciou a regulamentação, que parou apenas na questão da importação. Hoje já são milhares de pessoas com Autorização da ANVISA para importar o medicamento, mas grande parte deles não tem dinheiro para custear os altos preços dos medicamentos importados. Então alguns pacientes e associações entraram com ações na justiça e conseguiram obter proteção judicial para plantarem cannabis, extraírem a gordura da planta e manufaturar produtos terapêuticos. Atualmente são 26 pacientes e 2 associações com proteção da justiça cultivando para fins medicinais, e esse número só tende a crescer, já que é bem grande a quantidade de pessoas que podem se beneficiar dessas propriedades terapêuticas.

 

Não recomendamos a nenhuma pessoa cultivar ou fazer uso por conta própria, sem recomendação e prescrição de médico, muito menos sem autorização da ANVISA ou proteção judicial. Todas as informações contidas neste site servem apenas para informar a respeito do potencial terapêutico da planta e orientar na busca de informações adicionais. O uso de maconha e derivados ou de qualquer outro medicamento deve ser realizado apenas sob supervisão, prescrição e orientação de um(a) médico(a).

 

O que é a Maconha Medicinal e como agem seus princípios ativos?

 

Maconha é um dos nomes mais populares dado às flores fêmeas da cannabis, planta usada pelos seres humanos há mais de 15.000 anos. Somente as fêmeas têm em suas flores uma alta proporção de resina, uma gordura vegetal que lhe é característica. Essa gordura possui grande concentração de diferentes compostos exclusivamente produzidos por essa erva. São mais de 100 tipos de fitocannabinóides com poderes terapêuticos únicos, além dos terpenos e outros tipos de compostos que atuam em interação para formar o chamado “efeito comitiva” ou "entourage effect" e servirem como instrumento de terapia para os pacientes. O corpo humano possui um sistema único composto por receptores endocannabinóides, espalhados em diferentes partes do organismo, que reagem aos cannabinóides endógenos, aqueles produzidos dentro do próprio organismo.

 

Diferentes estudos têm revelado a sua influência desses endocannabinóides em diferentes sistemas importantes para o funcionamento do organismo. O fato é que a ciência atual tem descoberto que muitas doenças podem ser tratadas com diferentes combinações dos compostos produzidos pela planta, chamados fitocannabinoides. Porém, cada doença ou sintoma exige uma combinação desses compostos única. Do mesmo modo, cada paciente reage a esses medicamentos de uma maneira singular, como ocorre com qualquer tipo de medicamento.

 

Cada planta possui uma carga genética única e também um perfil singular a respeito da composição tanto em termos de proporções como quantidade de cada um dos fitocannabinóides, terpenos e outros compostos naturais. Assim é possível selecionar plantas com perfil específico de fitocannabinóides ou combinar diferentes tipos de plantas para encontrar o equilíbrio adequado. É preciso estudar a fundo cada variedade genética e principalmente consultar os criadores de cada tipo de planta que se pretende cultivar. Abaixo alguns exemplos de plantas com diferentes concentrações de princípios ativos.

 

1. Candida (Medical Marijuana Genetics) - ACDC x Harlequin

THC: 0.3%-0.9%

CBD: 10.6%-20.6%

Indicações: Anorexia, Ansiedade, Autismo, Depressão, Epilepsia, Inflamações, Stress, Transtorno de Deficit de Atenção e Hiper Atividade.

 

2. Txaki (Medical Marijuana Genetics) - Tijuana x Candida

THC: 4.5%-11%

CBD: 8.9%-17.5%

Indicações: Anorexia, Câncer, Depressão, Transtorno de Deficit de Atenção e Hiper Atividade.

 

3. Therapy (CBD Crew) - Genética desconhecida selecionada

THC: 0.5%

CBD: 8%-10%

Indicações: Anorexia, Ansiedade, Autismo, Depressão, Epilepsia, Inflamações, Stress, Transtorno de Deficit de Atenção e Hiper Atividade.

 

4. Cream Cheese CBD (Seedsman) - Seedsman CBD x UK Cheese

THC: 22%

CBD: 18%

Indicações: Anorexia, Câncer, Depressão, Transtorno de Deficit de Atenção e Hiper Atividade.

Quais doenças podem ser tratadas?

 

Apesar de milhares de usos, somente nas últimas décadas a ciência passou a se debruçar sobre as propriedades terapêuticas com mais afinco e a cada dia é descoberta uma nova aplicação curativa para os extratos da erva e medicamentos derivados. Algumas das doenças que a cannabis pode utilizada como auxiliar ao tratamento são: Alzheimer, Artrite, AIDS, Anorexia, Ansiedade, Asma e outras desordens respiratórias, Autismo, Câncer de diferentes tipos, Depressão, Doença de Crohn, Dores Crônicas, refratárias ou agudas, Epilepsias de diferentes tipos, Esclerose Múltipla, Esclerose Lateral Amiotrófica, Fibromialgia, Glaucoma, Hepatite C, síndrome de Tourette. Mas isso não significa que outras doenças ou quadros sintomáticos que não foram citados aqui não possam ser tratados com derivados da erva. Como disse, a cada dia saem novas descobertas de estudos e é sempre bom procurar se informar e consultar ajuda profissional. A palavra final sempre é do médico, autoridade designada no Sistema de Saúde brasileiro para prescrever derivados de cannabis. Veja lista de médicos no site da APEPI.

 

Métodos de administração dos princípios ativos

 

Muitas pessoas acreditam que fumar maconha seja a maneira de fazer uso medicinal, mas de fato isso não está correto. Poucos pacientes necessitam fazer uso de doses inaladas e, mesmo esses, devem fazer uso da erva em vapor ou spray, para minimizar os riscos deste tipo de via de administração.

 

Abaixo uma versão adaptada e atualizada da tabela encontrada no livro "Hemp: Uso Medicinal e Nutricional da Maconha", do autor Chris Conrad, esgotado no Brasil. A tabela faz uma comparação das vantagens e desvantagens dos diferentes sistemas de distribuição dos princípios ativos da planta.

 

 

Pomadas, Cremes, Adesivos, etc

Nos últimos anos a indústria da maconha medicinal nos E.U.A. e em outros países assistiu a uma revolução nas formas de administração dos princípios ativos da erva. Uma das novidades são os produtos de uso tópico, como cremes, loções, pomadas, adesivos, dentre outros. Além de ser uma forma de administração dos princípios ativos que preserva a ação terapêutica, o uso tópico evita os efeitos psicoativos do THC, ao agir localmente sobre a área afetada. O fato é que há receptores em todo o corpo humano e os remédios tópicos à base de maconha apenas utilizam esses receptores para administrar os fitocannabinóides de maneira mais eficiente. Nos casos de dores musculares, inflamações e doenças que provoquem degeneração, dores, ou provoquem algum processo inflamatório nos músculos, e articulações os remédios de uso tópico têm sido realmente muito indicados na atualidade.

 

Erva digerida na forma de alimentos:

Comer maconha é uma das formas mais antigas de ingestão da erva para fins medicinais e espirituais. A civilização indiana, com seu histórico do uso sagrado da erva, pode nos dar pistas desse antiguidade. O Bangh, bebida feita com leite é erva, é consumido para elevação espiritual e cura do corpo e da mente desde os tempos védicos, aproximadamente 2.000 anos antes de Cristo. Hoje a ingestão da erva é realizada das mais variadas formas, maneiras e sabores. Existem uma infinidade de alimentos, dos mais variados sabores e texturas, todos contendo diferentes concentrações de princípios ativos. Existem diferentes maneiras de consumir a erva de maneira ingerida e os alimentos e bebidas são apenas uma dessas maneiras.

 

Cápsulas de erva seca ou extratos:

Outra forma de ingestão são as cápsulas, muito indicadas para os que não querem se confundir nas dosagens na hora de se medicar, ultrapassando o necessário por causa do saboroso pedaço daquele bolo de chocolate com princípios ativos. As cápsulas são preparadas com a erva desidratada e que tenha sofrido processo de descarboxilação, para tornar o THC ativo. Então a erva é colocada nas cápsulas de diferentes tamanhos, de acordo com o fabricante e a dosagem. É possível fazer cápsulas com concentrados também, mas dependendo da textura pode vazar da cápsula.

 

Supositório

A via anal de administração de remédios nunca foi a mais popular entre os mais preconceituosos e menos resolvidos com o próprio corpo. Porém, em termos de uso medicinal da maconha, essa forma de administração dos princípios ativos da erva tem se mostrado uma das mais eficientes. Essa via de administração pode ser muito eficiente em pacientes com dificuldade para ingerir através de outros métodos. Além disso, atualmente diferentes tipos de câncer têm sido tratados com supositórios de cannabis, como próstata, reto, ovário, útero, dentre outros. Os supositórios de maconha têm se popularizado nos últimos anos para o uso vaginal na busca de alívio das cólicas provocadas pela menstruação.

 

Tinturas

As tinturas e infusões de maconha também são uma das formas mais antigas de consumir erva para fins medicinais e atualmente podem ser encontradas em diferentes versões e quase todos os fabricantes de remédios de cannabis detém ao menos um produto cuja forma de administração é a tintura. Até a maconha ser proibida na década de 1930 as tinturas eram a principal via de administração do medicamento por terem efeito rápido e ser de fácil dosagem. A melhor maneira de administração de tinturas é através da via sub-lingual, deixando o medicamento por alguns minutos debaixo da língua.

As tinturas são manufaturadas deixando as flores ou outras partes da planta em infusão em álcool de cereais por algum tempo e submetendo esta infusão à filtragem.

 

Óleos, Concentrados e Outros

Existem diferentes maneiras fazer extrações da resina da maconha para produzir diferentes tipos de concentrados. As técnicas mais comuns envolvem métodos de extração com solventes ou métodos de extração sem uso de solventes. As extrações com solventes (álcool, nafta, butano, dentre outros), devem ser realizadas apenas por profissionais em laboratórios equipados, tanto por causa dos riscos envolvidos no procedimento de extração, quanto pelo fato de que esses produtos deixam resíduos químicos quando não são realizados os procedimentos de filtragem e purificação da forma correta, com os equipamentos adequados. As extrações com técnicas mecânicas não envolvem solventes e, portanto, são muito menos arriscada e não deixam resíduos tóxicos. Algumas dessas técnicas utilizam apenas água, gelo e bolsas de filtragem especiais, ou apenas diferentes níveis de pressão e temperatura.

 

O óleo da maconha se tornou mais popular após o caso Rick Simpson, o americano que se curou do câncer produzindo seu próprio óleo concentrado da erva e após isso passou a empreender uma cruzada pessoal para difundir as técnicas para produzir e fazer uso do remédio. No Brasil o óleo ficou popular devido a diversas notícias da mídia e à militância das mães e pais das crianças com epilepsia que necessitam fazer uso do óleo rico em CBD e durante todo o ano de 2014 empreenderam uma luta árdua contra a burocracia do governo brasileiro para estabelecer e legitimar os protocolos de importação do óleo rico em CBD e de outros produtos semelhantes. No caso do Rick Simpson o óleo usado era rico em THC. Em todo caso, seja nas doenças que precisam de mais THC ou nos pacientes que necessitam dos concentrados de CBD, as técnicas para produção do óleo são as mesmas, variando apenas o tipo genético e as partes das plantas usadas para fabricação dos medicamentos.

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Acervo Sergio Vidal. Oficina de Extração, SC, 2017
Acervo Sergio Vidal. Oficina de Extração, SC, 2017
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Fotos acervo pessoal Sergio Vidal©

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